sexta-feira, 1 de junho de 2018

Geografia do Amapá - Áreas Naturais Homogêneas

A concepção de homogeneidade natural está ligada diretamente à escala de visualização e, portanto, passível de ampliação ou redução.
Para a escala considerada, o conceito é aplicado a determinadas condições naturais que, apesar de incluírem tipologias estruturais diferenciadas, ainda assim estão submetidas a fortes gradientes funcionais que lhes atribuem características próprias, enquanto unidade dinâmica.
Sob esse ponto de vista, a condição de área homogênea independe de extensão territorial ou de quaisquer outras variáveis isoladamente, que não impliquem em inversão do conteúdo ambiental. Em conseqüência, sua definição pode ser dada por apenas uma determinante, como é o caso da condição de inundação
ou por mais de uma determinante, como acontece com a floresta de terra firme, sendo que em ambos os casos, convergem para a determinação de uma individualidade fisionômica-funcional.

De Natureza Inundável
A área homogênea de natureza inundável compreende toda a porção mais exterior do território amapaense, que se situa como elemento de ligação entre os meios aquáticos exteriores (estuarino/amazônico e marinho) e a terra firme interior. Sua condição ambiental básica de inundação dá-se em função dos regimes de marés e climático (precipitação pluviométrica) a que está submetida.
Fisiograficamente, corresponde ao conjunto mais recente da região, envolvendo toda a área conhecida como Planície Quaternária. Ao longo de seus limites de distribuição, desde o extremo norte até o extremo sul do Estado, abrange segmentos geograficamente distintos, o que de certo implica em gradientes funcionais ora, marcado pelo predomínio de influências marinhas, ora pelo predomínio de influências fluviais. Com isso notam-se ambientes inundáveis: marcadamente marinhos, marcadamente fluviomarinhos e marcadamente fluviais.

A área de distribuição dos dois primeiros pode ser atribuída, sem muito rigor, ao trecho compreendido entre os rios Oiapoque e Gurijuba que, dentre suas formações típicas, destaca-se pela presença de densos manguezais. Nos limites com o rio Gurijuba, apesar da condição estuarina/amazônica, ainda é marcante a influência marinha, expressa pela presença de manguezais, na forma de siriubais, consorciados a espécies de várzea. 
Outras paisagens desse trecho, além dos manguezais, na orla litorânea, são os ambientes interiores de várzea que incluem formas campestres e florestadas em diferentes estágios de formação e desenvolvimento.
Todo esse conjunto é marcado por condições particulares de funcionamento, onde o ciclo d'água é regulado pela movimentação de marés e pelos regimes pluviométricos. Entre os rios Amapá e Araguari, esses ambientes se alargam em extensão e compõem um grande sistema fluviolacustre, envolvendo grandes lagos permanentes e temporários, que aumentam e diminuem de volume à medida que se considerem os períodos chuvoso (inverno) e de seca (verão), respectivamente.
Os ambientes inundáveis, marcadamente fluviais, constituem uma seqüência funcional correspondente à zona estuarina amazônica do
Estado, cujos limites com os ambientes fluviomarinhos são estabelecidos genericamente muito em função de características dominantes.
Fisionomicamente, esses ambientes se diferenciam dos marcadamente fluviomarinhos, pela extensão de suas florestas de várzea que chegam a formar grandes bosques ao longo das margens ribeirinhas. Sua condição ambiental também é regulada pela periodicidade de marés nos trechos sob a influência direta de cursos fluviais e pela pluviosidade sazonal nas áreas deprimidas interiores, as quais funcionam como bacias de acumulação temporária.
O conjunto desses três ambientes constitui um sistema funcionalmente complexo, envolvendo cadeias biológicas altamente especializadas e níveis de tolerância pouco conhecidos. São ambientes altamente vulneráveis e a vegetação funciona como elemento regulador da estabilidade natural.
A hidrografia envolve cursos parciais de grandes rios, intensa rede de tributários e um sistema fluviolacustre com coleções d'água temporárias e permanentes, ambas reguladas pelos regimes climáticos sazonais.

De Natureza Savanítica
A área homogênea de natureza savanítica é representada pelas formas campestres de terra firme que se apresentam com tipologias de cerrado. Sua abrangência territorial situa-se em torno de 9.861,89 km2, estando distribuído distintamente em dois sentidos geográficos: norte/sul, compreendendo uma extensa área de largura variável que se estende do município de Calçoene até os arredores da cidade de Macapá e o outro, o centro/sul, compreende uma área menor, limitada por florestas, que se situa nos limites dos municípios de Mazagão e Laranjal do Jari.
De modo geral, sua homogeneidade fisionômica é atribuída às características da vegetação que apresenta um estrato lenhoso aberto e um estrato herbáceo/arbustivo denso, ambos entrecortados por pequenas matas de galeria. Ilhas de matas também fazem parte da paisagem como um todo. Dentre as características físicas, sobressaem as formas de relevo ondulado e suave ondulado e a presença de tabuleiros.

Do ponto de vista funcional, toda a área savanítica é regulada por condições naturais determinantes, destacando o solo e o clima, e por condições não naturais, envolvendo toda a história de queimadas que ciclicamente acometem a vegetação, impondo-lhe limites de desenvolvimento e evolução.
Dada as condições físicas da área, são freqüentes as variações estruturais na vegetação, decorrendo fácies herbáceo-arbustivas, em
áreas de relevo ondulado e de microrrelevo abaciado e fácies arbustivo/arborescentes, em áreas aplainadas.
Além das formas campestres dominantes, as matas de galeria, ilhas de matas e veredas de buriti (Mauritia flexuosa), em vales úmidos constituem elementos próprios da área savanítica. A drenagem, ora se apresenta mais adensada, ora mais esparsa, segundo a variação do relevo, de ondulado a suave ondulado, respectivamente.

De Natureza Florestal de Terra Firme
Esta paisagem ocupa a maior área do Estado, em torno de 106.987,50 km2, e se caracteriza fisionomicamente pela presença de uma grande massa florestal contínua com características estruturais e funcionais definidas, atribuídas ao substrato de terra firme.
De modo geral, sua homogeneidade fisionômica é de floresta de alto porte, apesar de envolver tipologias diferenciadas ligadas a alterações de relevo e solo principalmente.
A área florestal de terra firme constitui o ambiente mais expressivo e mais típico do ecossistema amazônico. Sua unidade ambiental é atribuída à vegetação, a qual se apresenta marcada por condições particulares, destacando a diversidade de suas espécies, alta densidade por unidade de área e extrema competição pela energia solar. Esses aspectos, em conjunto ou em particular, originam padrões estruturais algumas vezes tão definidos que podem ser identificados a partir do arranjo de estratificação do dossel.

No Amapá, a extensão desse domínio florestal, em sua maior parte, corresponde ao conjunto de áreas representativas do Planalto das
Guianas. Em menor extensão, tem-se a cobertura de áreas geologicamente mais recentes. Para as duas condições, nem sempre é possível estabelecer limites fisionômicos confiáveis.
Comparada a outros domínios florestais que não de terra firme, sua identidade fisionômica se manifesta pelo porte e densidade da vegetação o que lhe atribui características próprias, facilmente identificáveis.
Seus limites com outras paisagens são os mais diversos possíveis, dando origem à transição com a savana e, na forma de contato abrupto, com a Planície Quaternária ao norte e ao sul do Estado.
Funcionalmente, todo o conjunto é regulado por complexas cadeias biogeoquímicas, onde o fluxo de energia, à maneira de um sistema
fechado, dá-se em função de reciclagens internas e, portanto, altamente dependente da integridade de seus componentes estruturais.

Fonte:

MACRODIAGNÓSTICO DO ESTADO DO AMAPÁ
PRIMEIRA APROXIMAÇÃO DO ZEE

COORDENADOR: Benedito Vitor Rabelo

AUTORES: Adalberto do Carmo Pinto, Alandy Patrícia do S. Cavalcante Simas, Antonio Tebaldi Tardin, Aristóteles Viana Fernandes, Benedito Vitor Rabelo, César Bernardo de Souza, Elenilza Maria P. Bentes Monteiro, Francinete da Silva Facundes, José Elias de Souza Ávila, Josiane S. Aguiar de Souza, Luiz Alberto Costa Guedes, Otizete A. de Alencar da Penha, Rosa Maria de Sousa Melo e Valdeci Marques Gibson

NORMALIZAÇÃO: Adelina do S. S. Belém

REVISÃO (VERSÃO EM PDF): Adalberto do C. Pinto/IEPA (Texto, Quadro e Figuras), Jamile da C. da Silva/IEPA (Referências) e Andréa Liliane P. da Silva/EMBRAPA-AP (Referências)

INSTITUIÇÕES COLABORADORAS: EMBRAPA/AP, IBGE/DIPEQ/AP, INPE e UFRJ/LAGET

CONTRIBUIÇÃO: Socorro de Jesus C. de Oliveira, Ulene C. da Silva

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Amapaz Projetos Sustentáveis LTDA



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