quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Atualidades - OCDE descreve o atual momento econômico do Brasil como “crítico”

O Brasil vive "um momento crítico". Assim começa, com um tom bastante pessimista, o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a atual situação econômica do país. O organismo piorou nesta quarta-feira, pela terceira vez neste ano, as previsões sobre o crescimento brasileiro: o PIB cairá 3,1% em 2015 e 1,2% em 2016, segundo assegurou. Em junho, a entidade havia previsto uma desaceleração de 0,8% neste ano e um crescimento de 1,1% no próximo. A entidade voltou a opinar sobre o país em setembro, quando previu uma queda de 2,8% e 0,7%, respectivamente.
O "momento crítico" ao que se refere a organização se deve a uma mistura de fatores: "os desafios na situação fiscal" (o Governo apresentou nesta quarta, já contando com as chamadas "pedaladas fiscais", um déficit de 119,9 bilhões de reais para 2015, aproximadamente 2% do PIB, enquanto que no início do ano previa um superávit de 66,3 bilhões); "inflação alta" (9,49% no acumulado deste ano, segundo o Banco Central); e a queda dos preços das matérias-primas, alimentada pela desaceleração da economia chinesa. 
A OCDE, cujo secretário-geral, Ángel Gurría, se reuniu com o ministro da Fazenda Joaquim Levy em Brasília, destacou que o Brasil deve seguir pelo caminho do ajuste fiscal e levar a cabo mais cortes no orçamento —a maioria impopulares— e mais aumento de impostos para equilibrar as contas públicas.
O organismo defendeu que os gastos públicos sejam "mais efetivos" e direcionados às classes mais pobres que às novas classes médias, além de políticas que melhorem a produtividade do mercado de trabalho e a infraestrutura do país —ambas consideradas inferiores a dos demais países do grupo.
A organização sugeriu, além disso, políticas públicas para melhorar a saúde pública, como aumentar a formação de médicos e enfermeiros, expandir o atendimento médico especializado para reduzir os tempos de espera, fortalecer os incentivos para reduzir os desequilíbrios geográficos, entre outras. Mas também apontou para a necessidade de realizar uma reforma no sistema de pensões, aumentando gradualmente a idade de aposentadoria e indexando os valores recebidos pelos pensionistas aos preços ao consumidor. O organismo também pediu a consolidação dos impostos indiretos de valor agregado e menos tributos às importações e exigências de conteúdo nacional.
"A estabilidade macroeconômica foi um fator crucial para o sucesso brasileiro", destacou Gurría. "O progresso deve continuar nas frentes fiscal e monetária. Reformas estruturais ambiciosas são urgentemente necessárias, para diminuir as lacunas de produtividade com outras economias emergentes, assegurando ao mesmo tempo que todos os brasileiros possam  compartilhar os frutos da prosperidade".
crise econômica começou a golpear o país no ano passado —quando o PIB brasileiro cresceu apenas 0,1%— e começou a passar fatura para a população neste ano, sobretudo através de aumento de impostos e cortes de investimentos. Além disso, mais de 600.000 postos de trabalho foram fechados e a taxa de desemprego aumentou para 8,7%, segundo os dados do IBGE, colocando em xeque as conquistas sociais dos últimos 20 anos, sobretudo durante o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), do Partido dos Trabalhadores (PT).
Sua sucessora, a presidenta Dilma Rousseff, agora tem o desafio de manter estas conquistas sociais —tanto através do crescimento da economia como do gasto social— ao mesmo tempo que realiza uma série de cortes na economia. O Governo anunciou em maio um ajuste fiscal de 70 bilhões de reais que atingiu todos os setores, inclusive a Saúde e a Educação. Também cortou no mês passado oito ministérios, 30 secretarias, 3.000 dos 22.000 cargos de confiança e 10% do salário da própria mandataria. A economia de 200 milhões gerada, ainda que simbólica, tinha o objetivo de conseguir mais apoio popular às medidas de ajuste, mas a aprovação de Dilma não supera os 10%, segundo todas as pesquisas de opinião. A mandataria tenta ainda driblar em Brasília uma insistente crise política que ameaça derrubar seu Governo, piorando ainda mais os indicadores econômicos. O momento, como diz a OCDE, é "crítico".
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/04/economia/1446663237_818015.html

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