domingo, 18 de dezembro de 2016

Geografia do Amapá - Os projetos de Ludwig

No ano de 1974, Ludwig definiu como seria utilizada a área da Jari na execução de seus projetos, tanto no Estado do Pará, Município de Almeirim, como no então Território Federal do Amapá, Município de Mazagão.
O mapa foi baseado em fotografias aéreas (mosaicos semi-controlados), sendo portanto a escala e as estimativas aproximadas. A medição das áreas foi feita por processo mecânico, através do uso de planímetro polar, também sujeito a variações ou aproximações. Existiu também a dificuldade na foto-interpretação de várias áreas, devido à presença de nuvens nas fotos e a escala de 1:40.000, que provocavam alguns enganos. Nesta avaliação não foram incluídos 57.917 hectares localizados a Oeste do rio Parú, fora portanto do Bloco Jari-Amazonas-Parú, sendo 11.530 hectares da gleba Velha Pobre, próxima à cidade de Almeirim e 46.387 hectares de outras glebas mais ao norte.
Os vários projetos, com as respectivas áreas necessárias para sua execução (excetuando-se as áreas de proteção, estradas, vilas e outras benfeitorias), estão descritas a seguir:
1 - Projeto Florestal
1.1 - Plantações e Pesquisas
Para garantir o suprimento contínuo de madeira para as fábricas de polpa, papel, laminados e serrarias, seriam necessários 200 mil hectares de florestas de Gmelina e Pinus, essências já testadas para estas finalidades. Foi elaborado um plano cuja execução deveria ocorrer em duas fases. Para pesquisa da área florestal, foi considerada uma área de 1% da área com floresta (2.000 hectares), perfazendo 202.000 hectares para a plantação e pesquisa. Não estavam incluídas outras áreas ocupadas com estradas, faixas de proteção, pátios de armazenamento de madeira, alojamentos, etc.
1.2 - Sementeira e Viveiro
A Jari possuia, hoje não se sabe ao certo se ainda existe,  o maior viveiro do mundo, produzindo anualmente de trinta a trinta e cinco milhões de mudas florestais anualmente, sendo em maior quantidade a Gmelina arborea (pertencente à família das berbenáceas) e Pinus caribaea (varieda de hondurensis).
Para a produção de mudas atender ao Projeto Florestal, seriam necessárias as seguintes áreas:
Viveiro para Gmelina
60ha

Viveiro para Pinus
20ha

Viveiro para outras espécies
20ha

Área total de viveiro
100ha


1.3 - Faixas de Proteção
As faixas de proteção da mata nativa, de 100 a 200 metros de largura, seriam situadas entre áreas plantadas com Gmelina ou Pinus. A finalidade era servir de refúgio aos animais, proteger os igarapés e a própria plantação contra incêndios e pragas que porventura surgissem em outras áreas. Foi estimado que entre faixas estreitas e larga a área teria aproximadamente 20 mil hectares.

2 - Pecuária
2.1 - Bovinocultura
Considerando que em 1974 estávamos abatendo 1200 cabeças de gado por mês para a subsistência de 30 mil pessoas, foi previsto que em 1990, com os projetos em fase operacional, teríamos uma população em torno de 80 mil pessoas, demandando o abate de 3200 cabeças mensais, o que totalizaria 38.400 cabeças/ano. A fim suprir esta necessidade, precisaríamos de um rebanho de 100 mil reses. Este rebanho bovino teria suas pastagens entre a floresta de Pinus, assunto que constituirá capítulo à parte neste projeto.
2.2 - Bubalinocultura
A Jari não tinha o mesmo interesse na criação de búfalos, comparada com a criação de bovinos. Porém existiam áreas propícias  para a criação da espécie nas várzeas. Foram previstas áreas suficientes para a criação de 40 mil cabeças de búfalos. Considerava-se também áreas necessárias para matadouro, pocilga (previsto plantel de 5 mil porcos, com abate mensal de 800 animais), currais, marombas, ect, num total de 94 mil hectares, sendo 54 mil hectares no Pará e 40 mil hectares no então Território Federal do Amapá.
2.3 - Animais de serviço (equinos e muares)
Estes animais seriam criados para finalidades diversas, mas a principal seria a de arregimentação de rebanhos.

3 - Projeto Arroz
O projeto previa uma plantação de 14 mil hectares, que poderai ser ampliada, segundo as necessidades nacionais e mundiais. Para este projeto, incluindo a área das vilas de São Raimundo, e ainda depósitos, secadores e diques, a área necessária seria de aproximadamente 20 mil hectares.

4 - Outras Culturas
Outras culturas como o Dendê, Banana etc poderiam ocupar 74 mil hectares de áreas cultiváveis no Amapá. Esta previsão incluía mais de 6 mil hectares de faixas de matas nativa, com 100 a 200 metros de largura, perfazendo um total de 80 mil hectares para estas atividades.

5 - Hortigranjeiros
A fim de abastecer a população das áreas dos projetos com frutas, aves, ovos e verduras, seriam necessários cultivos agrículas e granjas, que ocupariam área aproximada de 1500 hectares, incluindo também instalações como depósitos, abatedouros e galpões para máquinas agrículas.

6 - Área Industrial
Seria necessário uma área de 500 hectares para instalar todas as indústrias de polpa, papel, laminado, serrarias e beneficiamento de caulim, incluindo escritórios, aumoxarifados, depósitos de matéria prima e produtos industrializados, restaurantes, alojamentos, pátio de estocagem de madeira e cavacos, terminais ferroviários etc.

7 - Jazidas de Caulim
Á área ocupada pelas jazidas de Caulim, exploradas pela "Cadam - Caulim da Amazônia", era de 10 mil hectares aproximadamente, incluindo instalações na área denominada "Felipe", no Amapá.

8 - Monte Dourado
Esta cidade, que na época deveria ter 3 mil habitantes, era a sede dos projetos e deveria alcançar no ano de 1990 uma população de aproximadamente 30 mil habitantes. Para comportar toda a infra-estrutura necessária, seriam necessários aproximadamente 1200 hectares. Está área já era efetivamente ocupada com residências, comércios, escolas, hospital, supermercado, igrejas, estação de tratamento d'água, estação de recuperação ou tratamento de rejeito, área de lazer, recreação, clubes etc.

9 - Silvivilas e Vilas
A plantação de 1200 hectares, para ser manejada e administrada racional e eficientemente, seria dividida em 10 blocos de aproximadamente 20 mil hectares cada um. Cada bloco teria seus próprios supervisores e executores. Para abrigar toda a mão-de-obra necessária à execução das operações de manejo desse bloco, deveria existir, de preferência próximo ao seu centro, uma Silvivila. Naquela época já existia duas implantadas, abrigando o pessoal dos respectivos blocos.
Com 750 casas, as Silvivilas abrigariam engenheiros florestais, administradores, assistentes sociais, visitadores sociais, médicos, enfermeiros, capatazes, motoristas, operadores e trabalhadores com suas familias. Nas Silvivilas existiriam escolas, supermercados, centros comunitários, postos médicos, igrejas ecumênicas e comissariado com destacamento policial, além de recreação, praça de esportes, estação de tratamento de água, ecritório florestal e de administração comunitária, posto de lubrificação e abastecimento de veículos e equipamentos motrizes, oficinas para reparos e manutenção dos equipamentos do bloco. Deveria ter também área suficiente para acomodar o centro comunitário, a horta e o pomar. Também as casas teriam que ter quintais que permitissem o cultivo de pequena horta e jardim, e ainda recreação. Foi estimada para cada casa uma área de aproximadamente 500 m². As Silvivilas teriam também área para acúmulo de detritos orgânicos (lagoa séptica). No total cada Silvivila ocuparia área de 60 ha
Nos projetos localizados no Pará haveria dez silvivilas e no Amapá três, totalizando treze silvivilas (*) correspondendo a 780 hectares.
(*) A título de informação de que se tem notícia, existem hoje apenas duas silvivilas funcionando com toda a infra-estrutura mencionada, isso se não fechou ainda.
Em seu conjunto, as áreas para silvivilas totalizariam 1005 hectares.

10 - Vias Terrestres
10.1 - Estradas Principais
As estradas principais da Jari ocupam uma faixa de aproximadamente trinta metros de largura, incluindo acostamento, vala com largura de árvores a árvore, revestidas com carvalho ou piçarra, o que permite o tráfego pesado e contínuo durante todo o ano, a qualquer tipo de veículo. Naquela época eram 600 km (3600 hectares) no Pará e 200km (600 hectares) no Estado do Amapá. No total seriam 1400km de estradas, ou 4200 hectares aproximadamente.
10.2 - Estradas Vecinais
São estradas existentes nas áreas plantadas, dividindo-se em pequenas quadras de aproximadamente 25 hectares. São planejadas e construídas, sempre que possível, na densidade idela de 5km para cada 100 hectares. Dão acesso a qualquer ponto das plantações, com largura média de 6,5 metros. Na época já havia 4 mil km de estradas, o que representava uma área de de 2600 hectares. Quando a empresa atingisse os 274 mil hectares plantados, em ambos os lados (Pará e Amapá), deveriam totalizar cerca de 13850km, correspondentes a 8120 hectares.
10.3 - Estradas Secundárias
São estradas do tipo intermediário entre as principais e as vicinais. Permitem tráfego pesado durante todo o ano, obdecendo a especificações menos rigorosas que a principal. Destinadas ao escoamento da madeira retirada das plantações para os pátios de estocagem ou concentração, ao longo da ferrovia, ou ainda diretamente às fábricas. Seriam construídas à razão de 1 km para cada 60 hectares, com largura de 16 metros, ocupando área de 5333 hectares.
10.4 - Ferrovia
Destinada ao transporte de madeira  dos pátios de concentração para a área industrial, ocupando uma faixa de 50 metros de largura e 220 km de extensão, o que representaria 1100 hectares. Os nove pátios planejados para receber a madeira cortada, cada um com 20 hectares, somariam 180 hectares. Assim, o complexo ferroviário deveria ocupar uma área correspondente a 1300 hectares.
Em números globais, todos os tipos de vias terrestres do projeto somariam 16.733 hectares no Pará e 2310 hectares no Amapá.

11 - Campos de Aviação
Já existiam 3 campos de aviação, que ocupavam área de aproximadamente 220 hectares, incluindo as faixas de aproximação. Outros pequenos campos deveriam ser construídos para o abastecimento de aeronaves agrícolas, de adubos, defensivos agrícolas, socorros urgentes, transporte de cargas e passageiros. No bloco do Pará seriam construídos mais cinco campos (correspondentes a 50 hectares) e no lado do Amapá dois campos (correspondendo a 8 hectares cada, ou seja 16 hectares).
A área total teria dez campos de pouso, ocupando aproximadamente 286 hectares.

12 - Portos e Trapiches
A empresa já possuía três portos em Monte Dourado (correspondendo a aproximadamente 11 hectares), mais três em São Raimundo (com 8 hectares) e um em Saracura (com 1 hectare). Eram sete portos ocupando uma área de 20 hectares no bloco paraense. No Amapá estava prevista a construção de três portos, correspondendo a 5 hectares.
No total seriam 10 portos, em área aproximada de 25 hectares.

13 - Rede Elétrica
Considerando a Hidrelétrica da cachoeira de Santo Antônio, no Rio Jari, seriam necessários aproximadamente 450km de rede de alta tensão para a transmissão de energia. Paralela a esta rede haveria uma faixa de 50 metros sem vegetação alta, que pudesse provocar acidentes. Esta faixa representaria 2250  hectares, sendo 1500 no bloco paraense e 750 no Amapá.

14 - Áreas não Aproveitáveis
14.1 - Pântanos e Igapós
São áreas com vegetação constituída de buritizais e terrenos turfosos. Estimava-se que, dentro da área da Jari, exitissem 100 mil hectares no Pará e 54855 no Amapá.
14.2 - Riachos e Igarapés
Estimava-se uma área de 1200 hectares no Pará e 145 hectares no Amapá.
14.3 - Afloramento de Rochas
A área estimada era de mil hectares no Pará.
14.4 - Áreas com Relevo Acidentado
Estimava-se que existissem 71093 hectares no bloco do Pará e 134 mil hectares no Amapá
O total de áreas não aproveitáveis era de 173.293 hectares no Pará e 183.192 hectares no Amapá, perfazendo um total de 362.488 hectares.
14.5 - Reserva Florestal
Em obediência à lei e por motivo de natureza ecológica, um mínimo de 50% da área permaneceria com cobertura de mata nativa. Isso representaria um total de 817.727 hectares, sendo 493.312 hectares no bloco do Pará e 324.415 hectares no Amapá.

Sumário

DISCRIMINAÇÃO
PARÁ (ha)
AMAPÁ (ha)
TOTAL (ha)
%
1 - Projeto Florestal
222.100
-
222.100
13,608
2 - Pecuária
54.000
40.000
94.000
5,759
3 - Projeto Arroz
20.000
-
20.000
1,225
4 - Outras Culturas
-
80.000
80.000
4,902
5 - Hortigranjeiros
1.500
-
1.500
0,092
6 - Área Industrial
500
-
500
0,031
7 - Jazidas de Cualim
-
10.000
10.000
0,613
8 - Monte Dourado
1.200
-
1.200
0,074
9 - Silvivilas e Vilas
600
405
1.005
0,062
10 - Vias Terrestres
16.733
2.310
19.043
1,167
11 - Campos de Aviação
270
16
286
0,017
12 - Portos e Trapiches
20
5
25
0,001
13 - Rede Elétrica
1.500
750
2.250
0,138
14 - Áreas não Aproveitáveis
173.293
189.192
362.485
22,209
15 - Reserva Florestal
493.312
324.415
817.727
50,102

TOTAL
985.028
647.093
1.632,121
100,000


Fonte:  http://www.geocities.ws/CapeCanaveral/Hall/7530/Projetos.htm






 


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