As imagens comovem pelo tamanho da
multidão: milhares de pessoas que se agrupam em caravanas humanas para
tentar chegar aos países da União Europeia. Elas fogem do horror da
guerra civil na Síria, iniciada em 2011.
Mas apesar do que foi
apresentado como uma crise migratória sem precedentes nas fronteiras da
Europa, trata-se de pouco em comparação com o que vivem os países
vizinhos da Síria – que receberam a maior parte dos quase 4,6 milhões de
refugiados que escaparam da Síria.
Na que foi considerada pela ONU como "a maior crise humanitária"
desde a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos refugiados se deslocou
para países vizinhos como Turquia, Líbano e Jordânia para escapar da
guerra que envolve o grupo do presidente Bashar Assad, rebeldes aliados e
a ameaça do grupo autodenominado "Estado Islâmico".
De acordo com
os dados revelados pela Comissão Europeia e o Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (Acnur), chegaram à Turquia 1.9 milhão de
sírios nos últimos quatro anos. No Líbano foram 1,1 milhão, e na
Jordânia, 629,6 mil.
Enquanto a União Europeia discute e analisa
onde colocar os 120 mil beneficiários de solicitações de refúgio que
planeja receber nos próximos dois anos, os três países mencionados acima
já receberam em conjunto 3,6 milhões de sírios – 30 vezes a cifra
europeia.
Só para se ter ideia: a Alemanha, a potência europeia, afirmou que
receberia 800 mil refugiados em seu território. Enquanto isso a Turquia,
país que aspira entrar no grupo europeu, já aceitou o triplo.
"A
desorganização e o sistema de asilo extremamente disfuncional da Europa
contribuíram para agravar a crise dos refugiados", afirmou nesta semana à
imprensa o representante da Acnur, Antonio Guterres.
"Estamos falando de 4 mil a 5 mil pessoas por dia em um bloco que tem
508 milhões de habitantes". Até o momento a União Europeia recebeu
281,4 mil solicitações de refúgio por parte de sírios.
O Brasil
concedeu status de refugiados a mais de dois mil sírios desde 2011 até
agosto deste ano, segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os
Refugiados). O número é maior do que o de alguns dos principais portos
de destino na Europa e do que quase todos os países do continente
americano, exceto pelo Canadá, que recebeu aproximadamente 2.500 no
mesmo período, de acordo com o Ministro da Imigração Chris Alexander.
Em
janeiro, o país anunciou planos de receber cerca de 10 mil refugiados
sírios nos próximos três anos, mas foi criticado por priorizar minorias
étnicas e religiosas perseguidas, como cristãos.
Na quinta-feira, o
presidente americano Barack Obama também anunciou que os Estados Unidos
devem receber "no mínimo" 10 mil refugiados sírios no próximo ano, de
acordo com um porta-voz da Casa Branca. Até o momento, o país havia
concedido refúgio a cerca de 1.200, desde 2011.
Gastos em solidariedade
A imagem da crise que emocionou o mundo – a foto do corpo de Alan
Kurdi, um menino de 3 anos – ocorreu nas praias do país que mais abriga
refugiados sírios em seu território: a Turquia.
A situação lá é crítica.
De acordo com a Acnur, o governo turco construiu 25 acampamentos de refugiados – onde atualmente estão alojadas 275 mil pessoas.
O restante dos sírios se estabeleceu em dez cidades do país.
O ex-premiê turco Ahmet Davutoglu afirmou que nos últimos anos seu país gastou cerca de US$ 6 bilhões para atender a emergência.
"Foi
um gasto que assumimos quase na totalidade. A União Europeia só
investiu US$ 165 milhões. Não podemos enfrentar sozinhos esta crise",
escreveu Davutoglu ao jornal The Guardian.
Segundo
autoridades turcas, a maioria dos refugiados está satisfeita com o
suporte nos acampamentos e ao menos 90% utilizaram serviços de saúde
locais.
Líbano e Jordânia
Uma das situações mais complexas é vivida pelo Líbano – país em que um em cada cinco habitantes é sírio.
Desde o início do conflito, 1,1 milhão sírios buscaram refúgio no país.
"Na
Síria nos acostumamos a viver como reis mas aqui somos como mendigos.
Pedimos ajuda às pessoas e nos sentimos envergonhados", disse Hanaa, uma
síria que chegou a Beirute após escapar da guerra na cidade de Yarmuk.
Na
Jordânia a situação é similar. No acampamento de Zaatari, residem cerca
de 100 mil das 600 mil pessoas que chegaram nos últimos anos. O governo
gasta US$ 50 milhões por ano para mantê-lo.
Deslocamento interno
De
acordo com um relatório da Acnur, cerca de 7,6 milhões de pessoas
tiveram que se deslocar dentro da Síria para tentar escapar da
violência.
Segundo ele, o que para os analistas do Ocidente é uma crise que está emergindo, para os países vizinhos essa é uma preocupação que existe desde o início da guerra, há mais de quatro anos.
"A diferença agora é que os refugiados, em grande número, estão tratando de chegar aos países mais ricos da Europa", disse ele.
"Mas a razão fundamental para que eles continuem fugindo está na Síria, em um conflito que não tem um final à vista".
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150910_vizinhos_refugiados_lk
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