Os Mártires de Haymarket
A festividade socialista do Primeiro de Maio, se bem que nos anos recentes tenha sido seqüestrada pelos leninistas, se originou com a execução de quatro anarquistas em Chicago em 1886 por organizar trabalhadores na luta pela jornada de oito horas. A American Federation of Labor havia lançado uma chamada à greve para 1 de maio de 1886, apoiando esta demanda. Em Chicago os anarquistas eram a força principal no movimento sindical, e em parte como resultado de sua presença, os sindicatos atuaram sobre esta chamada com as greves do 1 de maio. Se convocou uma manifestação em repúdio à brutalidade policial durante estas greves. (A policia havia atacado um piquete, matando uma pessoa). Conforme se dissolvia a manifestação, foi atacada pela policia. Uma bomba foi lançada em cima das forças policiais, que abriram fogo sobre a multidão. Ao final, todos os anarquistas conhecidos foram presos, a policia baixou ordens de "lançar a rede primeiro e consultar as leis depois" do procurador do estado.
Oito anarquistas foram julgados por cumplicidade em assassinato. Não houve nenhuma pretensão de que nenhum dos acusados houvesse cometido nem planejado o bombardeio. Pelo contrario, se instruiu o jurado que "A lei está sendo julgada. A anarquia está sendo julgada. Estes homens foram selecionados pelo Grande Júri, e condenados por serem líderes. Não são mais culpáveis que os milhares de seus seguidores. Senhores do júri; condene-os, façam deles um exemplo, acabem com eles e salvem nossas instituições, nossa sociedade". O jurado estava formado por homens de negócios e um parente de um dos policiais mortos, dessa forma, as vítimas foram declaradas culpadas. Sete foram sentenciados à morte, um a 15 anos de cárcere.
Uma campanha internacional resultou em que duas das sentenças fossem comutadas para prisão perpétua. Dos cinco restantes, um burlou ao verdugo suicidando-se à véspera da execução. Os quatro restantes foram enforcados em 11 de novembro de 1887. São conhecidos na historia operaria como os Mártires de Haymarket.
Albert Spies (um dos mártires) se dirigiu à corte depois de haver sido condenado à morte: "se credes que enforcando-nos podeis acabar com o movimento operário ... o movimento no qual os milhões de oprimidos, os milhões que trabalham na miséria e na necessidade esperam sua salvação -- se esta é vossa opinião, então enforquem-nos! Aqui pisotearás uma faísca, mas ali e acolá, por traz de vocês, pela tua frente, e por todas as partes, as chamas surgirão. É um fogo subterrâneo. Não o podereis apagar". Naquele dia, e nos anos posteriores, este desafio ao estado e ao capitalismo atrairia milhares ao anarquismo, particularmente dentro dos EEUU.
Para compreender por quê o estado e a classe patronal estavam tão determinados a enforcar aos anarquistas de Chicago, é necessário dar-se conta de que eram considerados como "líderes" de um movimento operário radical e massivo. Em 1884, os anarquistas de Chicago publicavam o primeiro diário anarquista, o Chicagoer Arbeiter-Zeiting. Era redigido, lido, publicado, e era propriedade dos imigrantes alemães do movimento operário. A circulação combinada do diário, do semanário (Vorbote) e a edição do domingo, (Fackel) mais que dobrou, de 13 mil exemplares em 1880 para 26.980 em 1886. Haviam periódicos anarquistas para outros grupos étnicos também.
Os anarquistas foram muito ativos na Central Labor Union, fazendo dela, nas palavras de Albert Parsons (um dos mártires), "o grupo embrionário da futura 'sociedade livre'". Aparte de seu trabalho sindical organizador, o movimento anarquista de Chicago originou também centros sociais, pic-nics, palestras, bailes, bibliotecas e um montão de atividades. Todas elas contribuíram para formar uma cultura obreira distintamente revolucionaria no coração do"American Dream". A ameaça à classe dominante e a seu sistema era demasiado grande para permitir que continuasse . Daí para a frente veio a repressão, a corte canguru, e o assassinato estatal daqueles que o estado e a classe capitalista considerava "líderes" do movimento.
http://cirandas.net/anarquismo/faq-anarquista/introducao/alguns-exemplos-de-anarquismo-em-acao
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