A Comuna de Paris
A Comuna de Paris de 1871 jogou um papel importante no desenvolvimento do movimento e das idéias anarquistas. Bakunin por sua vez comentou, "o socialismo revolucionário (i.e. anarquismo) acaba de ensaiar seu primeiro golpe e demonstração prática na Comuna de Paris" [Bakunin on Anarchism, p. 263].
A Comuna de Paris foi criada depois da derrota da França pelas mãos da Prussia na guerra franco-prusiana. O governo francês tratou de mandar tropas para recuperar o canhão da Guarda Nacional Parisiense para evitar que caísse nas mãos do povo. Os soldados se negaram a abrir fogo sobre a multidão rebelde e apontaram as armas contra seus oficiais. Isto ocorreu em 18 de março. A Comuna começava.
Nas eleições livres convocadas pela Guarda Nacional de Paris, os cidadãos elegeram um conselho formado por uma maioria de Jacobinos e Republicanos e uma minoria Socialista (Blanquistas - socialistas autoritários - a maior parte, e seguidores de Proudhon). O conselho proclamou a autonomia de Paris e seu desejo de recriar a França como uma confederação de comunas (i.e. comunidades). Dentro da Comuna, os integrantes do conselho podiam ser revogados e se lhes pagava um salário médio. Além disso, tinham que prestar contas ao povo que os elegeram.
Está claro por quê este sucesso se prendeu à imaginação dos anarquistas - tem grandes similaridades com as idéias anarquistas. De fato, o exemplo da Comuna de Paris foi de muitas maneiras similar a como Bakunin havia prognosticado que a revolução ocorreria - uma cidade principal se declararia autônoma, organizando-se e dando exemplo, e exortaria ao resto do mundo a seguí-la. (Ver "Carta a Albert Richards" em Bakunin on Anarquism). A Comuna de Paris iniciou o processo de criação de uma nova sociedade, organizada de baixo para cima.
Muitos anarquistas tiveram um papel importante dentro da Comuna, por exemplo Louise Michel, os irmãos Reclus, e Eugene Varlin (este último assassinado em uma repressão posterior). Referente às reformas iniciadas pela Comuna, tais como a reabertura dos postos de trabalho como cooperativas, os anarquistas puderam ver suas idéias de trabalho associadas começar a realizar-se. No chamamento da Comuna ao federalismo e à autonomia, os anarquistas vêem sua "organização social do futuro ... levada a cabo de baixo para cima, através da livre associação ou federação de trabalhadores, começando pelas associações, seguindo as comunas, as regiões, as nações, e finalmente culminando em uma grande federação internacional e universal" [Bakunin, ibid., p. 270].
Todavia, para os anarquistas a Comuna durou pouco. O estado não fora abolido dentro da Comuna, como havia sido abolido fora. Os comuneiros se organizaram "de maneira Jacobina" (usando as mesmas palavras de Bakunin). Como assinalou Piotr Kropotkin, não"romperam com a tradição do estado, de governo representativo, e não trataram de obter dentro da Comuna essa organização do simples ao complexo que havia inaugurado ao proclamar a independência e a livre federação de comunas" [Fighting the Revolution, p. 16]. Alem disso, suas tentativas de reforma econômica não foram suficientemente longe, não trataram de formar cooperativas em todos os postos de trabalho nem formar associações destas cooperativas para a coordenação e o apoio mutuo em suas atividades econômicas. Não obstante, como a cidade estava sitiada pelo exército francês, se compreende que os comuneiros pensaram em outras coisas.
Em lugar de abolir o estado dentro da comuna organizando federações de assembléias democráticas de massas, como as "seções" parisienses da revolução de 1789-93 (ver Great French Revolution de Kropotkin), a Comuna de Paris manteve um governo representativo e sofreu por isso. "Em vez de atuar por sua conta ... o povo, confiando em seus governadores, lhes confiou o encargo de tomar a iniciativa" [Kropotkin, Revolutionary Pamphlets, p.19], e assim o conselho se converteu no "maior obstáculo à revolução"[Bakunin, Op. Cit., p. 241].
O conselho se isolou mais e mais do povo que o elegeu, tornando-se mais e mais inútil. Enquanto que sua irrelevancia aumentava, o mesmo ocorria com suas tendências autoritárias, chegando a criar-se um "Comitê de Saúde Pública" pela maioria Jacobina, para"defender" (pelo terror) a " revolução". O Comitê se opôs à minoria libertário-socialista e foi afortunadamente ignorado na prática pelo povo de Paris que defendia sua liberdade contra o exército francês, que os atacava em nome da civilização capitalista e da "liberdade". Em 1 de maio, as tropas governamentais entraram na cidade, seguindo-se sete dias de duras lutas nas ruas. Pelotões de soldados e membros da burguesia armados invadiram as ruas, matando impunemente. Mais de 25 mil pessoas foram mortas nas lutas pelas ruas, muitas assassinadas depois de renderem-se, e seus cadáveres foram enterrados em sepulturas comuns.
Para os anarquistas, as lições da Comuna de Paris foram três. Primeiro, uma confederação de comunidades descentralizada é a forma política necessária para uma sociedade livre. Segundo, "Há tantas razões para um governo dentro da Comuna como para um governo sobre ela" {Piotr Kropotkin, Fighting the Revolution, p. 19]. O que quer dizer que uma comunidade anarquista há que ser baseada na confederação de bairros e assembléias de trabalho cooperando livremente. Terceiro, é criticamente importante unificar as revoluções política e econômica en uma revoluçãosocial." Eles trataram de consolidar a Comuna primeiro, postergando a revolução social para mais tarde, enquanto que a única forma de proceder era consolidar a Comuna por meio da revolução social!" [Kropotkin, Op. Cit.,p. 19].
http://cirandas.net/anarquismo/faq-anarquista/introducao/alguns-exemplos-de-anarquismo-em-acao
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