terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O Anarquismo e a Revolução Espanhola

O Anarquismo e a Revolução Espanhola

Nos anos 30 a Espanha tinha o maior movimento anarquista do mundo. Ao começo da guerra "civil" espanhola, mais de um milhão e meio de trabalhadores e camponeses eram membros da CNT (Confederação Nacional do Trabalho), federação de uniões anarcosindicalistas, e 30 mil eram membros da FAI (Federação Anarquista Ibérica). A população total da Espanha era então de 24 milhões.
A revolução social que se contrapôs ao golpe fascista em 18 de Julho de 1936 é o maior experimento do socialismo libertário feito até hoje. Naquela ocasião a última união sindicalista de massas, a CNT, não apenas rechaçou o levante fascista como fomentou amplamente a ocupação de terras e fábricas. Mais de sete milhões de pessoas, inclusive cerca de dois milhões de membros da CNT, puseram a autogestão em prática nas mais difíceis circunstancias e de fato melhoraram as
condições de trabalho e a produção.
Durante os excitantes dias que se seguiram ao 19 de Julho, a iniciativa e o poder estavam verdadeiramente nas mãos dos membros da CNT e da FAI. Foi o povo comum, sem dúvida, sob a influencia dos faístas (membros da FAI) e dos militantes da CNT que, depois de derrotar o levante fascista, puseram em marcha a produção, distribuição e novamente o consumo (sob termos certamente muito mais igualitários) assim como organizaram e se ofereceram como voluntários (às centenas de milhares) às milícias, que se movimentaram para libertar aquelas partes da Espanha que
haviam caído sob Franco. De todas as maneiras possíveis a classe operaria espanhola estava criando com seus próprios atos um mundo novo baseado em suas próprias idéias de justiça social e liberdade -- idéias inspiradas, certamente, no anarquismo e no anarcosindicalismo.
A extensão completa desta histórica revolução não pode ser coberta aqui. Se discutirá mais detalhadamente na Seção I. Poremos em relevo alguns pontos de interesse especial esperando que eles dêem alguma indicação da importância destes fatos e animem as pessoas a averiguar mais sobre eles.
Toda a industria da Catalunia foi colocada sob a autogestão pelos trabalhadores ou controlada por eles (ou seja, eles assumiram totalmente todos os aspectos da direção no primeiro caso, ou no segundo, colocando a antiga direção sob seu controle). Em alguns casos, as economias dos povos e regiões inteiras se transformaram em federações de coletividades. O exemplo de Alcoy (população de 45 mil) se dá como exemplo típico:
"Tudo era controlado pelos sindicatos. Mas isso não significava que tudo era decidido por uns poucos comitês burocráticos de cima sem consultar aos membros do sindicato. Aqui se praticava a democracia libertaria. Assim como na CNT havia uma dupla estrutura recíproca; desde a base .. até acima, e por outro lado uma influencia recíproca desde a federação dessas mesmas unidades locais a todos os níveis até abaixo, desde a fonte e volta à fonte" [Gaston Leval, citado em The Anarchist Collectives, Ed. Sam Dolgoff, p.105].
Na frente social, as organizações anarquistas criaram escolas racionais, um serviço de saúde libertário, centros sociais, etc. O movimento Mujeres Libres combateu o papel tradicional da mulher na sociedade espanhola, potenciando milhares dentro e fora do movimento anarquista (ver Free Women of Spain de Martha A. Ackelsberg para mais informações sobre esta importantíssima organização). Esta atividade na frente social se baseou no trabalho iniciado muito antes do principio da guerra; por exemplo, os sindicatos muitas vezes fundavam escolas racionais, centros de trabalhadores, etc.
Na Espanha, sem dúvida, como em todas as partes, o movimento anarquista foi esmagado pelo leninismo (o partido comunista) por um lado e pelo capitalismo (Franco) por outro. Desgraçadamente, os anarquistas colocaram a unidade antifascista anterior à revolução, ajudando seus inimigos a lhes derrotarem e à revolução. Que tenham sido forçados pelas circunstancias a chegar a esta posição ou que a poderiam ter evitado é algo que ainda hoje permanece em debate.
Para mais informação sobre a revolução espanhola, recomendamos os seguintes livros: Lessons of the Spanish Revolution de Vernon Richards; Los Anarquistas en La Revolución Española de José Peirats, Free Women of Spain de Martha A. Ackelsberg; The Anarchist Collectives editado por Sam Dolgoff; "Objectivity and Liberal Scholarship" de Noam Chomsky (em The Chomsky Reader); The Anarchists of Casas Viejas de Jerome R. Mintz; e Homenaje a Catalunya de George Orwell.

http://cirandas.net/anarquismo/faq-anarquista/introducao/alguns-exemplos-de-anarquismo-em-acao

Nenhum comentário:

Postar um comentário