segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Quantos tipos de anarquismos existem? (3)

Quantos tipos de anarquismo verde existem?

A ênfase em idéias anarquistas como caminho para solução das crises ecológicas é corriqueira na maior parte do pensamento anarquista de nossos dias. Peter Kropotkin já dizia que uma sociedade anarquista teria como base uma confederação de comunidades que integrariam o trabalho manual e intelectual da mesma forma que descentralizariam e integrariam a indústria e a agricultura (veja sua obra clássica, Fields, Factories, and Workshops). 

A idéia de uma economia em que "o pequeno é bonito" (para usar o título do clássico de E.F. Schumacher) foi proposto durante os anos 70 antes que fosse incorporado por aqueles que mais tarde formariam o movimento verde. Em adição, em Mutual Aid Kropotkin documentou como a cooperação com as espécies e entre elas juntamente com seu desenvolvimento é em geral mais benéfica que a competição. A obra de Kropotkin, conbinada com a de William Morris, e a dos irmãos de Reclus (os quais, como Kropotkin, foram geógrafos mundialmente renomados), e muitos outros serviram de bases para o corrente interesse anarquista pelos assuntos ecológicos. 
Contudo, embora hajam muitos temas de natureza ecológica em meio aos anarquistas clássicos, apenas recentemente que as similaridades entre o pensamento ecológico e o anarquismo começaram a vir à tona (essencialmente a partir da publicação do ensaio clássico de Murray Bookchin "Ecologia e Pensamento Revolucionário" em 1965). Não há nenhum exagero em afirmar que foram as idéias e a obra de Murray Bookchim que colocaram os assuntos ecológicos e a ecologia no coração do anarquismo, dos ideais anarquistas e nas análises dos muitos aspectos do movimento verde. 
Antes de discutir os tipos de anarquismo verde (também chamados de eco-anarquismo) seria oportuno explanar exatamente o que é que anarquismo e ecologia tem em comum. Citando Murray Bookchin, "tanto o ecologista quanto o anarquista dão uma forte ênfase na expontaneidade" e "tanto o ecologista quanto o anarquista, constituem uma identidade única dentro de formações diferenciadas.A diversificação e o enriquecimento das partes dá orígem a uma expansão.E acrescenta, "da mesma forma que o ecologista procura expandir o range de um eco-sistema e promove o livre intercâmbio entre as espécies, o anarquista por sua vez, procura expandir o range das experimentações sociais e remover todos os obstáculos ao seu desenvolvimento" [Post-Scarcity Anarchism, p. 72, p. 78] 
Esta preocupação dos anarquistas para com o livre desenvolvimento, a descentralização e a expontaneidade é refletida nas idéias ecológicas e concernentes. Hierarquia, centralização, estado e concentração de riqueza reduz a diversidade e o livre desenvolvimento dos indivíduos e de suas comunidades, os desvia de sua verdadeira natureza, e enfraquece o eco-sistema social pois as sociedades do atual eco-sistema social humano estão separadas. Conforme Bookchim afirma, "a menságem reconstrutiva da ecologia . . . [é que] nós precisamos conservar e promover a variedade" mas fora da moderna sociedade capitalista "tuda essa expontâneidade, criatividade e individualidade é destruída pela padronização, pela regulamentação e pela massificação." [Op. Cit., p. 76, p. 65] 
Portanto, de muitas maneiras, o anarquismo pode ser considerado a aplicação prática das idéias ecológicas na sociedade, as bandeiras anarquistas do fortalecimento dos indivíduos e das comunidades, da decentralização do poder político, social e econômico visam a potencialização dos indivíduos e do livre desenvolvimento de uma vida social rica e diversa em sua natureza. 
Quantos tipos de anarquismo verde existem? Os eco-anarquistas destacam dois pontos focais. Ecologia Social e anarquismo "primitivista". Em adição, alguns anarquistas influenciados pela Deep Ecology, em pequeno número. Sem qualquer sombra de dúvida a Ecologia Social é a corrente mais forte. A Ecologia Social é associada com as idéias e obra de Murray Bookchim, relacionando assuntos ecológicos desde os anos 50 e, a partir dos anos 60, e combinando tais assuntos com o anarquismo social revolucionário. Sua obra inclui Post-Scarcity Anarchism,Toward an Ecological SocietyThe Ecology of Freedom e uma série de outros autores. 
Os Ecologistas Sociais associam as raízes da crise ecológica com as relações de domínio entre as pessoas. O domínio da natureza é visto como um produto do domínio dentro da sociedade, mas esse domínio apenas aumenta as proporções da crise sob o capitalismo. Nas palavras de Murray Bookchim:

"A noção de que o homem precisa dominar a natureza emerge diretamente da dominação do homem pelo homem. . ." Mas não se trata apenas de relações comunais orgânicas. . . dissolvidas dentro de relações de mercado, o planeta em si mesmo foi reduzido a um mero suporte à exploração. Essa tendência ao longo dos séculos encontrou seu mais exacerbado desenvolvimento no moderno capitalismo. Argumentando que a natureza é inerentemente competitiva, a sociedade burguesa não apenas lançou homens contra outros homens, como também lançou a massa da humanidade contra o mundo natural. Da mesma forma como o homem é convertido em commodities, muitos aspectos da natureza humana é convertida para a commodity, um suporte a ser manufaturado e como uma mercadoria qualquer." [Op. Cit., p. 63] 

"A valorização do mercado em detrimento do espírito humano é paralela à valorização do capital em detrimento da terra."  [Ibid., p. 65]

Boa parte dos ecologistas sociais consideram essencial atacar a hierarquia e o capitalismo, não a civilização como sendo a causa raiz dos problemas ecológicos. Esta é uma das áreas chaves em que eles discordam das idéias Anarquistas "Primitivistas", os quais tendem a ser mais críticos em todos os aspectos da vida moderna, tanto que alguns vão mais longe e proclamam para o "fim da civilização" incluindo, aparentemente, todas as formas de tecnologia e organizações em larga escala. 
Indo mais longe, os anarquistas "Primitivistas" defendem o retorno às formas "Hunter-Gatherer" da sociedade humana, opondo-se à tecnologia como sendo hierárquica por natureza. O magazine britânico "Green Anarchist" dá suporte vocal a esta idéia. 
Contudo, poucos anarquistas vão tão longe. Aparentemente, a maioria dos anarquistas atualmente defendem que tal "Primitivismo" não é anarquista de todo, pois o tal retorno à sociedade do "Hunter-Gatherer" resultaria em uma paralização na maioria dos países com o colapso das infraestruturas sociais. Pelo fato da maioria das pessoas não serem simpáticas às idéias de tais "Primitivistas", elas jamais seriam aceitas nos meios libertários (i.e. pela livre escolha dos indivíduos) e não seriam os anarquistas os únicos a rechaçar essas idéias, poucos abraçariam voluntariamente essa proposta. 
Isto provocou o desenvolvimento por parte de algumas facções de "Anarquistas Verdes" de uma forma de eco-vanguardismo de maneira a, como disse Rousseau, "forçar o povo a ser livre" (como pode ser visto em artigos publicados em 1998 na celebração de atos terroristas). Em adição, a posição de "atrasar o relógio" é pouco convincente, quando afirma que as sociedades aborígenas em geral foram anárquicas, quando se sabe que tais sociedades desenvolveram-se formas de estatismo e de propriedade o que revela que tais sistemas "anarquistas primitivos" não são a resposta. 
Contudo, poucos eco-anarquistas assumem essas posições tão extremas. A maior parte dos anarquistas "Primitivistas", mesmo aqueles que são anti-tecnologia e anti-civilização, como bem expressa David Watson, crêem que a melhor maneira de lidar com isso é o "reconhecimento do modo de vida dos aborígenes" e desenvolver uma aproximação crítica de tudo que se refere à tecnologia, racionalismo e progresso em relação à Ecologia Social. Esses eco-anarquistas rejeitam "um primitivismo dogmático que prega um simples retorno linear aos nossos primórdios" . 
Para esses eco-anarquistas, o Primitivismo "reflete não apenas um período de vida antes do estado, mas também legitima respostas sobre as reais condições de vida sob a civilização" temos que respeitar e aprender com as "tradições paleotíticas e neolíticas" (associadas com as tribos Nativas Americanas e outros povos aborígenes). Mas isso não significa que "devamos abandonar os modos de pensar que se desenvolveram através dos séculos . . . não podemos reduzir a experiencia da vida, e das inevitáveis questões fundamentais do porque vivemos, e do comovivemos. . . embora, a diferença entre o espiritual e o secular não seja tão clara. O entendimento dialético de que somos nossa história seria uma inspirada razão para que honrássemos não apenas os ateísticos revolucionários espanhóis que morreram por um ideal, mas também os pacifistas religiosos prisioneiros de sua consiência. Os espíritos dançarinos dos Lakotas, dos hermitãos taoístas e dos místicos sufis executados." [David Watson, Beyond Bookchin: Preface for a future social ecology, p. 240, p. 103, p. 240, pp. 66-67] 
Tal anarquismo "Primitivista" associa-se a um range de magazines, a maior parte oriúndos dos Estados Unidos, como o Fifth Estate. Em uma questão referente à tecnologia, os eco-anarquistas defendem que "o mercado capitalista que deu início ao processo e que permanece como o núcleo do complexo, é apenas parte de algo maior: uma adaptação forçada dos organismos da sociedade humana para serem instrumentos econômicos da civilização e de suas técnicas massivas, não apenas hierárquica e externa mas inerentemente 'celular' e interna." [David Watson, Op. Cit., pp. 127-8] 
Por esta razão os anarquistas "Primitivistas" são mais críticos em todos os aspectos da tecnologia, que inclui a chamada aos anarquistas socieais para o uso de uma teconologia essencial apropriada de forma a libertar a humanidade e o planeta. 
Não é o uso da tecnologia que determina seus efeitos, os efeitos da tecnologia são determinados em larga escala pela sociedade que a cria. Em outras palavras, a tecnologia é escolhida com uma tendência a reforçar o poder hierárquico por parte daqueles que a detém, são essas pessoas que escolhem qual tecnologia será introduzida dentro da sociedade (é bom lembrar que os povos oprimidos possuem o excelente hábito de devolver a tecnologia contra os poderosos de tal forma que as mudanças tecnológicas e as lutas sociais estão interrelacionadas --  veja seção D.10). 
O uso de tecnologia apropriada envolve mais que uma seleção no range de tecnologias disponíveis, uma vez que a tecnologia acaba influenciando aqueles que as utilizam. Na verdade trata-se de uma avaliação crítica em todos os aspectos da tecnologia e modificá-la ou rejeitá-la visando maximizar a liberdade individual, o fortalecimento e a felicidade. Poucos Ecologistas Sociais discordam dessa avaliação, todavia, algumas diferenças são mais questões de ênfase do que divergências de cunho político. Finalmente, os anarquistas "Primitivistas" como a maioria dos anarquistas, são completamente contra o apoio da Ecologia Social a candidatos em eleições municipais, estaduais ou nacionais. Alguns Ecologistas Sociais defendem a participação nesses fóruns políticos como um meio para desenvolver assembléias populares democráticas visando criar um contra poder ao estado, mas poucos anarquistas concordam com isso. A grande maioria vê esse procedimento como inerentemente reformista por esperarem que o uso de eleições trará algum tipo de mudança social (veja seção J.5.14 para uma completa discussão sobre isso). 
Em vez disso eles propõem o uso da ação direta como meio divulgar as idéias anarquistas e ecológicas, rejeitando o eleitoralismo como um peso morto que em 100% das vezes procura destruir as idéias radicais e corromper as pessoas envolvidas (veja seção J.2 -- Que é Ação Direta?) Para mais informações sobre o Anarquismo "Primitivista" veja o Future Primitive  e o excelente Elements of Refusal de John Zerzan, como também Beyond Bookchin and Against the Mega-Machine de David Watson. Finalmente, há a "deep ecology" que, em função de sua natureza biocêntrica, muitos anarquistas a rejeitam como sendo anti-humana. Existem poucos anarquistas que acham que o povo, como povo, são a causa das crises ecológicas, conforme muitos "deep ecologists" parecem sugerir. 
Murray Bookchin, por exemplo, não poupou críticas à "deep ecology" e as idéias anti-humanas que estão associadas a ela (veja Which Way for the Ecology Movement?, por exemplo). 
David Watson também atacou a "deep ecology" (veja How Deep is Deep Ecology?, escrita por George Bradford). A maior parte dos anarquistas também concordam que o problema não está no povo mas no atual sistema, e que apenas o povo pode mudar isso, Nas palavras de Murray Bookchin:

"[O problema da Deep Ecology] está em percorrer os caminhos autoritários de um biologismo crú que usa 'leis naturais' para diminuir o senso de humanidade e ignorar a realidade do fato de que é o capitalismo o responsável, não uma abstração chamada 'Humanidade' e 'Sociedade'" [The Philosophy of Social Ecology, p. 160]

Resumir a crítica e a análise ecológica em um protesto simplista contra a raça humana ignora a verdadeira causa e a dinâmica da destruição ecológica, nesta direção não será encontrado o caminho para estancar essa destruição. Torna-se um erro grosseiro colocar as coisas em termos de que o "povo" é o responsável quando sabemos que a vasta maioria sequer tem conhecimento das decisões que afetam suas vidas, comunidades, indústrias e eco-sistemas. A verdade é que o que está em jogo é um sistema social que coloca os lucros e o poder acima do povo e do planeta. Focar a "humanidade" (falhando em distinguir entre o rico e o pobre, o homem e a mulher, os brancos e as pessoas de cor, os explorados e exploradores, opressores e oprimidos) como a responsável pelo sistema que nós vivemos significa de fato ignorar as causas institucionais dos problemas ecológicos. Diante das constantes críticas anarquistas aos seus porta-vozes, muitos Deep Ecologiststem recuado em aceitar idéias anti humanas como o seu movimento. 
Deep Ecology, particularmente a organização Earth First! (EF!), tem mudado consideravelmente com o transcorrer do tempo, e EF! atualmente mantem um estreito relacionamento com o sindicato Industrial Workers of the World (IWW). 
deep ecology não faz parte do eco-anarquismo, ela compartilha muitas idéias e grupos como o EF! estão começando a ter mais aceitação entre os anarquistas, pois começaram a rejeitam idéias misantropicas e ver que a hierarquia, não a raça humana, é o problema (para uma discussão entre Murray Bookchin e o lider Earth Firster! Dave Foreman veja o livro Defending the Earth). 
http://cirandas.net/anarquismo/faq-anarquista/introducao/quantos-tipos-de-anarquismos-existem

Nenhum comentário:

Postar um comentário