segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Quantos tipos de anarquismos existem? (4)

O anarquismo é pacifista?


A vertente pacifista existe a muito tempo entre os anarquistas, com Leo Tolstoy sendo uma de suas maiores figuras. Essa vertente é usualmente chamada de"anarco-pacifismo" (o termo "anarquismo não-violento" é muitas vezes usado, mas tal terminologia é inadequada porque implica em que o restante do movimento é "violento", que não é o caso!). A união entre pacifismo e anarquismo não serpreende diante dos ideais e argumentos fundamentais do anarquismo. 
A violencia, ou as formas ocultas de violência ou constrangimento, é um dos meios chaves pela qual a liberdade individual é destruída. 
Confome Peter Marshall observou, "a forma com que os anarquistas proporcionam respeito às particulariedades do indivíduo ao longo de sua existencia é uma forma de não violência e um estilo não violento que tem sido ampliado pelos valores anarquistas." [Demanding the Impossible, p.637] 
Malatesta é ainda mais explícito quando escreve que "a essência do anarquismo é remover a violência das relações humanas" e que os anarquistas "se opõem à violência." [Life and Ideas, p. 53]. Contudo, embora muitos anarquistas rejeitem a violência e proclamem o pacifismo, o movimento, em geral, não é essencialmente pacifista (no sentido de se opor a todas as formas de violência em todo o tempo). 
Mesmo sendo anti-militarista, ao se posicionar contra a violência organizada do estado, reconhece que existem importantes diferenças entre a violência do opressor e a violência do oprimido. Estas coisas explicam porque o movimento anarquista sempre teve que dedicar uma boa parte do tempo e de energia se opondo à máquina do militarismo e das guerras capitalistas, enquanto que ao mesmo tempo, apoiava e organizava uma resistência armada contra a opressão (como foi o caso do exército Makhnovista durante a Revolução Russa que resistiu ao mesmo tempo ao Exército Vermelho e ao Exéricito Branco, e como foi o caso das milícias organizadas pelos anarquistas para resistir aos fascistas durande a Revolução Espanhola -- veja seções A.5.4 e A.5.6, respectivamente). Em questão de não-violência, como uma regra eterna, o movimento divide-se ao longo das linhagens Individualista e Social. A maioria dos anarquistas Individualistas simplesmente apoiam as táticas não-violentas para a mudança social, como fazem os Mutualistas. Contudo, o anarquismo Individualista não é pacifista como eles, tanto que muitos apoiam a idéia da violência como forma legítima de auto-defesa contra a agressão. A maior parte dos anarquistas sociais, por outro lado, apóiam o uso da violência revolucionária, pela utilização da força física quando ela for requerida tanto para demolir o poder como plara resistir à agressão do estado e do capitalismo (o mesmo sucede com o anarco-sindicalismo, consulte Bart de Ligt, que escreveu o clássico pacifista, The Conquest of Violence). Malatesta descreveu a violência como sendo: "um mal em si mesma", e que é "justificada apenas quando ela é necessária para defender-se a si mesmo e aos outros da violência" e que o"escravo está em todo o tempo em estado de legítima defesa, consequentemente, sua violência contra o dominador, contra o opressor, é sempre moralmente justificável." [Op. Cit., p. 55, pp. 53-54]. Alguns alegam que as palavras de Bakunin dizem respeito à opressão social "um ataque dirigido menos aos indivíduos e mais à organização das coisas e à posição social", bandeiras anarquistas como"básicamente destruir posições e coisas" mais do que pessoas, aparece como a bandeira de uma revolução anarquista cujo alvo é o fim das classes privilegiadas"não como indivíduos, mas como classe." [citado por Richard B. Saltman, The Social and Political Thought of Michael Bakunin p. 121, p. 124 e p. 122]. A questão da violência é relativamente importante para a maioria dos anarquistas, embora não a glorifiquem e pensem que deveria haver um esforço para que houvesse o mínimo possível durante uma luta social ou revolução. Todos anarquistas concordam com o pacifista anarco-sindicalista alemão Bart de Ligt quando ele afirma que "a violência e a guerra que são as condições características do mundo capitalista não tem nada a ver com a liberdade do indivíduo, que é a missão histórica das classes trabalhadoras. O fim da violência só acontecerá quando toda violência for deliberadamente colocada a serviço da revolução." [The Conquest of Violence, p. 75]. De forma similar, todos anarquistas concordariam com de Ligt, no que diz respeito ao nome de um dos capítulos de seu livro, "o absurdo do pacifismo burguês". Para de Ligt, e para todos os anarquistas, a violência é inerente ao sistema capitalista e qualquer tentativa de fazer um capitalismo pacifista está condenado ao fracasso. É por isso que, de um lado, a guerra significa apenas uma faceta da competição econômica quando esta fracassa por outros meios. As nações vão à guerra quando elas enfrentam uma crise econômica, quando elas não conseguem ganhar uma luta econômica elas apelam para o conflito. Por outro lado,"a violência é indispensável nesta moderna sociedade. . . [porque] sem ela as classes dominantes seriam completamente incapazes de manter suas posições de privilégios na manutenção das massas exploradas em cada país." O exército é usado principalmente e acima de tudo em função dos trabalhadores.  . . quando eles se tornarem descontentes." [Bart de Ligt, Op. Cit., p. 62]. Tão antiga quanto o estado e o capitalismo, a violência é inevitável e, portanto, para os anarco-pacifistas, um pacifismo consistente precisa ser anarquista da mesma forma que o anarquismo consistente precisa ser pacifista. Para aqueles anarquistas que são não-pacifistas, a violência aparece como inevitável e desgraçadamente resulta da opressão e exploração dos meios de produção pelas classes privilegiadas. O uso da violência será inevitável para que renunciem seu poder e riqueza. Aqueles que detem a autoridade raramente cedem seu poder a não ser pela força. A necessidade de uma violência "provisória para por um fim à generalização e perpetuação da violência é inevitável àqueles que pretendem sair da condição de servidão." [Malatesta, Op. Cit., p. 55]. Polarizar no assunto violência versus não-violência é ignorar o assunto principal, em como é que mudaremos a sociedade para melhor. 
"it's the same as if rolling up your sleeves for work should be considered the work itself. . .[t]he fighting part of revolution is merely rolling up your sleeves. The real, actual task is ahead." [ABC of Anarchism, p. 40]A maioria das lutas sociais e revoluções começam relativamente pacíficas (via greves, ocupações e coisas parecidas) e apenas degenera para a violência quando aqueles que estão no poder tentam manter suas posições (um clássico exemplo ocorreu na Itália, em 1920, quando a ocupação de fábricas pelos trabalhadores foi seguida pelo terror fascista -- veja seção A.5.5). Conforme já foi dito, todos os anarquistas são anti-militaristas e se opõem tanto à máquina militar (mesmo à "indústria" da defesa) quanto à guerra estatista/capitalista (embora alguns anarquistas como Rudolf Rocker e Sam Dolgoff, tenham apoiado a facção capitalista anti-fascist durante a segunda grande guerra como um mal menor). A menságem anti-guerra dos anarquistas e dos anarco-sindicalistas foi propagada antes mesmo de começar a primeira guerra mundial, pela ação de sindicalistas e anarquistas na Inglaterra e na América do Norte apoiados pela esquerdista CGT francesa conclamando os soldados para que não obedecessem órdens de atacar companheiros trabalhadores de outros paises. Emma Goldman e Alexander Berkman ambos foram presos e deportados da América por organizarem a "No-Conscription League" em 1917 ocasião em que muitos anarquistas na Europa foram presos por recusarem-se a participar das forças armadas durante a primeira e a segunda guerra mundial. A influência anarco-sindicalista da IWW foi esmagada pela repressão governamental dirigida contra essas organizações em função das menságens anti-bélicas que apontavam as poderosas elites como as beneficiárias. Mais recentemente, anarquistas, (incluindo gente como Noam Chomsky e Paul Goodman) tem participado ativamente em movimentos pela paz da mesma forma que contribuem na resistência pela objeção de consciência onde quer que exista. Os anarquistas participaram ativamente na oposição a guerras como a Guerra do Vietnam, a guerra das Falklands da mesma forma que a Guerra do Golfo (incluindo, na Itália, a ajuda na organização de greves de protestos contra ela). O mesmo aconteceu durante o último conflito quando muitos anarquistas levantaram o slogan"Nenhuma guerra exceto a guerra de classes" que marcou a oposição anarquista à guerra -- decididamente um mal consequente do sistema de classes, no qual as classes opressoras de diferentes países matam-se uns aos outros pelo poder, pelo lucro e em proveito de seus governantes. Em vez de participarem nessas organizações, os anarquistas proclamam às classes trabalhadoras lutar pelos seus próprios interesses e não pelos interesses de seus opressores:

"Mais do que nunca precisamos evitar compromisso; entre capitalistas e escravos, entre governantes e governados; pregue a expropriação da propriedade privada e a destruição dos estados como o único meio de garantir a fraternidade entre os povos e a Justiça e a Liberdade para todos" [Malatesta, Op. Cit., p. 251]
(Notamos aqui que as palavras de Malatesta foram em parte escritas contra Peter Kropotkin que, por razões que ninguém conhecia melhor que ele, rejeitou tudo que ele defendeu por décadas e apoiou os aliados na Primeira Grande Guerra como um mal menor contra o autoritarismo e o Imperialismo alemão. Naturalmente, conforme apontado por Malatesta, "todo governo e toda classe capitalista" criaram"divisões. . . entre os trabalhadores e rebeldes de seus próprios países." [Op. Cit., p. 246]). A aproximação entre o pacifismo e os anarquistas é evidente. A violência éautoritária e coercitiva, e o uso dela entra em contradição com os princípios anarquistas. Por isso que os anarquistas concordam com Malatesta quando ele diz que "somos em princípio contra a violência e por essa razão acreditamos que a luta social deve ser conduzida tão humanamente quanto possível." [Op. Cit., p. 57]. A maior parte, senão todos, dos anarquistas que não são estritamente pacifistas concordam com os pacifistas-anarquistas qudo eles defendem que a violência pode muitas vezes ser contraprodutiva, alienando as pessoas e dando ao estado uma desculpa para poder reprimir tanto o movimento anarquista como os movimentos populasres por mudança social. Todos anarquistas apoiam a ação direta não-violenta e a desobediência civil, que na maior parte das vezes se apresenta como o melhor caminho para uma mudança radical. Dessa forma, pelo apresentado, é raro encontrar anarquistas que sejam puramente pacifistas. A maioria aceita o uso da violência como um mal necessário e advogam seu uso mínimo. Todos concordam que a revolução que institucionaliza a violência apenas recriará o estado em uma nova versão. Eles defendem, que não é necessário ser autoritário para destruir o autoritarismo ou usar a violência pra resistir à violência. Embora a maioria dos anarquistas não sejam pacifistas, a maioria deles rejeita a violência exceto em casos de auto-defesa e ainda assim minimizada.

http://cirandas.net/anarquismo/faq-anarquista/introducao/quantos-tipos-de-anarquismos-existem

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